BOATE KISS. Na segunda-feira (27), a tragédia que matou 242 pessoas completa um ano

Um ano depois do incêndio que matou 242 pessoas na boate Kiss, Santa Maria (RS) se esforça para superar o trauma. Cinco amigas inseparáveis: Vitória, Gilmara, Andrielle, Mirela e Flávia, morreram juntas na boate Kiss. “A gente não perdeu uma, perdeu todas, porque elas eram o complemento uma com a outra”, conta a mãe Ligiane Righi da Silva.

As filhas se foram, mas deixaram para os pais o sonho de criar uma ONG e ajudar crianças carentes. “Já tinha feito em dezembro uma doação, ela foi através da internet e escolheu esta escola. A gente levou as doações, ela se emocionou e disse: mãe, a partir de agora vamos continuar ajudando essa escolinha”, relata Fani Vilanova Torres.

Os pais das cinco meninas fundaram a ONG Para Sempre Cinderelas, que ganhou o reconhecimento da comunidade. Juntos, eles dão continuidade ao trabalho que as filhas começaram.

As doações arrecadadas na comunidade são repassadas para entidades assistenciais de Santa Maria. Eles fazem questão de ir pessoalmente realizar a entrega e assim, na solidariedade, encontram forças para enfrentar a perda.

As cenas da madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 jamais serão esquecidas por Gustavo Riet. Ele perdeu o melhor amigo. O empresário estava no grupo que, com uma marreta, abriu um buraco na parede para a fumaça sair. Ele ajudou a salvar dezenas de vítimas, entrou várias vezes na boate, aspirou fumaça tóxica e precisou ser internado. Foi aí que uma visita especial se tornou um incentivo para a recuperação. “Um amigo em comum nos convidou para sair, rolou química, olhares e ficamos.”

Juliana Ruviaro e Gustavo se conheceram na noite anterior à tragédia. Ela foi presença constante ao lado dele nos cinco dias de internação. “A gente foi se conhecendo mais, ela ficava todas as tardes. A gente foi ficando e no fim já estamos há um ano. Virou namoro e talvez role um casamento, se ela disser sim”, conta ele.

Mais de cem vítimas do incêndio eram estudantes da Universidade Federal de Santa Maria. Arion Pilla, que trabalha na UFSM há 30 anos conta sobre o dia. “Chegando, nós identificamos muitos daqueles que eram pessoas do nosso convívio, filhos de outros amigos. Foram surpreendidos daquela forma horrível.”

Aos poucos, Santa Maria retomou a rotina, mas pela cidade, ninguém ficou indiferente às lições da tragédia. “Não se perde quase 300 crianças em vão. Não podemos pensar que o tempo vai apagar isso. O que aconteceu nos ensinou e este aprendizado nós temos que ter conosco para sempre", completa Arion.